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CINZAS, SÍMBOLO DE CONCRETA CONVERSÃO.

CINZAS, SÍMBOLO DE CONCRETA CONVERSÃO.

Ms. Prof. Aerton Carvalho

O gesto de queimar matéria orgânica ou corpos, para retirar as Cinzas dos mesmos, é encontrado em muitas culturas e tradições religiosas. Basta voltarmos às tradições gregas ou egípcias onde encontramos o mito da famosa “Ave Fênix”. Diz a mitologia, tratar-se de uma ave rara, de plumas douradas e vermelhas. Por sua raridade nunca conseguiam vê-la, pois habitava no deserto. Ao perceber que seu fim estava chegando, a ave fazia um ninho para si, com ervas aromáticas e, sob o sol escaldante, entrava em combustão. Sobravam suas Cinzas que, como num milagre, voltava à vida no formato de um ovo ou de uma larva que trazia aquela ave à vida novamente.

Na Índia os corpos cremados à margem do Rio Ganges, na cidade de Varanasi, fazem parte do ritual que é a porta de entrada para o mundo espiritual. O sagrado Rio Ganges que nasce na Cordilheira do Himalaia, lugar onde habitam os deuses, serve de túmulo para aquelas Cinzas que dormem nos braços de Brahma.

Para nós, Cristãos, as Cinzas também tem uma riqueza de significados inestimáveis. Elas recordam a fragilidade e finitude do homem. Todo o Antigo Testamento traz inúmeras passagens em que as Cinzas se apresentam como elemento de purificação, como no caso daqueles que precisavam se purificar ao tocar nos corpos dos mortos (Nm. 19)¬¬ como símbolo de arrependimento, quando Daniel coberto de saco e cinza, jejua e ora a Deus (Dn. 9,3)¬¬ mas somente o gesto externo não agrada a Deus. Diz a escritura que o que importa mesmo são as boas obras do ser humano (Is. 58,5ss)¬¬ Abraão e Jó usam a Cinza como sinal da transitoriedade da vida (Gn. 18,27. Jó. 30,19). Ainda existe a figura das Cinzas como luto e como lamentação (2Sm. 13,19).

As Cinzas por conta da sua leveza lembram o pó da terra, recordando ao homem sua origem e convidando-o à humildade e ao arrependimento. A carta aos Hebreus nos ajudam, teologicamente, a fazer uma ponte do significado das Cinzas com o Cristo, pois “a cinza de novilha, espalhada sobre os seres ritualmente impuros, os santifica purificando os seus corpos, tanto mais o sangue de Cristo poderá purificar a humanidade” (Heb. 9,13-14).

Desde o século X nós, cristãos, elevamos as Cinzas à condição de sacramental. Na Quarta-Feira de Cinzas, a cinza dos ramos que foram bentos no ano anterior, é espalhada ou imposta na fronte dos fiéis em forma de cruz, com as seguintes palavras “Convertei-vos e crede no Evangelho” ou “Lembra-te, homem, que és pó e ao pó voltarás”, estas últimas eram usadas antes da reforma litúrgica, no Concilio Vaticano II, mas ainda podem ser usadas na liturgia. O penitente reconhece sua finitude e fragilidade e, sinceramente, faz o propósito de retornar à vida verdadeira que só o Cristo pode dar pela sua morte e ressurreição.

Momento propício para rever a vida, re-optar concretamente por Cristo e pelo seu projeto salvífico, a Quarta-Feira de Cinzas lembra-nos que estamos a quarenta dias do maior mistério da história do cristianismo, a paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus, certeza de nossa salvação e esperança aos caminheiros desse mundo.